Chryskylodon - Episódio 3 - Corrida. Cigarro. Outros. “HALULU!”


Aqui, a morte nunca é eterna, pessoal. Acho que esse site já ressuscitou mais vezes do que eu consigo contar. 

Então, graças à essa magnífica habilidade, peço que nunca desistam de nós, porque somos imortais!

Que tal irmos direto para o capítulo de hoje? Mais um capítulo de Chryskylodon- é, aquela obra que ninguém consegue digitar sem colar! Não esqueçam de comentar e dar uns cookies pro Gustavo Simas, autor dedicado da obra!

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Música para acompanhar a leitura de hoje:






Chryskylodon


Episódio 3: Corrida. Cigarro. Outros. “HALULU!”



“Às vezes você precisa criar o que você quer para ser parte daquilo”
Geri Weitzman



Parte A: “Come ride with me, through the veins of history”


            -Então você não gosta de repolho, é?!

           -NÃO!

            -De vez em quando, umas três vezes por semana eles fazem! Teve uma vez durante a Crise que, por falta de fornecimento de alimentos aqui em Kyoki e na região, todos só comiam arroz, alga e repolho! Todo dia! Todo dia santo! Você imagina?! Arroz, alga e repolho, alga, repolho e arroz, repolho, arroz e alga todos os dias! Tinha gente vomitando pra tudo que é lado! Foi bem nojento!

            -POR QUANTO TEMPO ISSO?!

-Uns treze dias! Ou mais!

-HM. E VOCÊ?! CONSEGUIU AGUENTAR ARROZ, ALGA E REPOLHO TODO DIA SANTO?!

-Eu?! Não, eu nem estava no Centro naquela época!

-HM. ENTÃO COMO VOCÊ SABE DISSO?!

Nox olhou para Don Torino e deu um risinho de canto de boca:

-Eu sei!

Ambos corriam lado a lado; Nox em seu veloz alazão; Don num jipe/carrinho de golfe prata do Hospício. Estavam gritando para poderem se ouvir. Nox não exclamava tão alto quanto Torino, sua voz grave ia diretamente aos tímpanos do ouvinte aparentemente sem qualquer esforço vocal. Ele fumava dois cigarros. Jogou um fora. No toque do cigarro com o solo, imediatamente surgiu o fogo, queimando parte do campo gramado de atividades ao ar-livre do Centro.

-Ih. Talvez isso me dê problemas.

-O QUÊ?

-Nada!

Don aceitara o convite de Nox em “ir passear”, “se divertir” e “caçar um pouco”, de acordo com estas exatas palavras, embora desconfiasse dez por cento pelo olhar enigmático e o comportamento suspeito de seu recém-conhecido colega de hospício. “Mas quem não tem comportamento anormal aqui?”, pensou Don. A briga no refeitório começara na fila, algo a ver com a sopa ou pratos, talvez dois idiotas egoístas, provavelmente inconsequentes, com certeza loucos. Em instantes tornou-se epidêmica, pandêmica, disseminando a emoção vibrante de ação e violência nos arredores. Talheres e pratos e cadeiras e pedaços de coisas voavam da direita para esquerda, de baixo para cima e vice-versa. E os gritos, graves, trêmulos e agudos grunhidos. E gemidos. Depois o choro. Gente brigando com os próprios amigos. Gente brigando consigo mesma. Bastou Nox olhar para Don que ambos concluíram de um modo silente que a melhor opção era sair dali, tanto para evitarem danos físicos, quanto evitar se envolverem em situações que viriam a comprometê-los com consequências piores... eles foram dois dos poucos que tomaram uma decisão sensata daquelas. “Coisas piores já ocorreram” foi o que Nox comentou. Don Torino não teve dúvidas.

Em alta velocidade iam em direção ao leste. O Sol os acompanhava. O alazão musculoso não demonstrava nenhum sinal de cansaço. O painel do jipe apresentava o estado da bateria em 71%. O vento batia mais forte a cada milha. O terreno verde oscilava mais; os ângulos inclinavam-se. Árvores à frente em contraste com o horizonte. Verde e azul. E branco de nuvens.

-Você sabe que eu venho pra cá! E quase sempre chove! Chuva grossa! Tempestade! Daquelas violentas! Que arrancam árvores! Destelham casas! Fazem um estrago brilhante! Devastadoras! Cabulosas! Terríveis mesmo!

-POR QUE VOCÊ TÁ FALANDO ISSO?

-Porque hoje não está chovendo! Nenhum sinal de chuva! Quero dizer: tirando aquelas cinzas nuvens antipáticas lá atrás! – e apontou as cumulus nimbus distantes de onde vieram, acima de Hospício – Ainda bem que estão longes demais! Não é uma maravilha?! Incrível!

Don concordou sorrindo. Nox jogou fora o outro cigarro. Tirou as mãos das rédeas, puxou do bolso da camisa um cigarro do tamanho de um charuto. Riscou-o no cavalo uma vez. Duas vezes. Na terceira acendeu. Tragou sutilmente.

-COMO?

-Ah, meu amigo! Esse cavalo faz milagres – como se não bastasse a velocidade.

-VOCÊ GOSTA DE CIGARROS, HEIN?

-É! Fumo desde que me conheço! Haha! Você quer? – estendeu-lhe o cigarro-charuto.

-NÃO! – não sabia ao certo se era correto dizer “obrigado” para aquilo. Disse mesmo assim - OBRIGADO!

-Você devia experimentar! Tem uns que preferem outras coisas! Mais estranhas! Mais coloridas! Mas o cigarro é o mais simples! O eficaz! O Pai das Drogas! Haha!

-É!

O trote e o ronco de motor preenchiam o espaço e os acompanhavam naquela corrida até além dos campos verdes. Don estava apreciando seu passeio. Nunca fora um excelente motorista, porém o jipe era fácil de manobrar, com seu câmbio automático e volante sensível. Só pecava na segurança. “Nenhum sinal de ter airbag ou coisa do tipo”. Não possuía nem cinto de segurança.

Contudo sentia-se vivo. Seu companheiro de viagem se espreguiçava. Estava agora com óculos de sol.

-VOCÊ SEMPRE CAVALGA POR AQUI, ENTÃO!?

-Uhum! Sempre! Vinha mais com alguns dos outros antes do hospício! Agora nem tanto! Os outros se perderam por aí! Um ou outro dos outros eu vi em Chryskylodon! É difícil encontrar todos! Nunca vi todos juntos! Sempre falta “aquele”! E agora tem esse burburinho por aí!

Don Torino boiava:

-DE QUEM DIABOS VOCÊ TÁ FALANDO? QUEM SÃO “OS OUTROS”?

-Hã? Você não sabe então! Haha! Já suspeitava!

Sentiu-se um completo ignorante.

-QUEM É “AQUELE”?

Novamente o risinho de Nox.

-Você vai saber, meu amigo! Você vai saber!


Parte B: “No one is gonna take me alive, time has come to make things right”


-HAHA! AATIRA AMIGO! AATIRA!

Parados, escondidos atrás das árvores agora eles se viam. Respiração pesada e coração bombeando. Don olhou para a kalashnikov em seus braços e pensou: “Como diabos eu fui aceitar o convite desse psicopata?”.

-É EMOCIONANTE, NÃO? HAHA!

Gritava mais alto do que antes. Don o escutava perfeitamente.

-ESSES SELVAGENS ATACAM FAMÍLIAS INOCENTES! SÃO VÂNDALOS! E AINDA OUSAM ATACAR O HOSPÍCIO! VOCÊ NÃO SABE AS BARBARIDADES QUE FAZEM!

Sons de disparos mesclaram-se com a voz de Nox. Don encolheu-se. “Deus... o que eu fiz pra merecer isso? Quer dizer, eu fiz coisas ruins, mas não a ponto de merecer isso!”.

-HALULU!!!

Nox atirava furiosamente, pronunciando seu grito de guerra ou seja lá o que queria dizer. Torino sabia que vários morriam, mesmo assim não olhou os tantos que caíam metralhados no solo, sem esperança, sem chance, sem vida. Tremia e suava; havia utilizado armas antes, não sem saber exatamente o porquê de usar. Matar aquelas pessoas era simplesmente... sem sentido, mesmo com a suposta acusação de seu “parceiro de passeio”. “Então essa é a ‘caça’? Merda! Merda! Merda!”. Só era capaz de pensar isso. Com a adrenalina do momento, a transpiração, o medo e o nervosismo, aquela vontade de agir retornava, lentamente, porém forte e sedenta. Tinha certeza de que não possuía nenhuma pílula de pare, Enéias não havia lhe dado, nem roubara de alguém, ainda assim procurou em seus bolsos, com mãos trêmulas. Rangia os dentes, sua cabeça fervia, a ânsia, o descontrole cresciam. Observou seu companheiro entregue àquela insanidade sanguinária e o medo começou a se transformar em fúria. Em ódio. Por quê? Não sabia. Ele não sabia de nada. De nada.

-HALULU!!!

De nada sabia.

Apreensão, temor, trêmulo agora. Furioso. Crescia a ira. “Será verdade...?”, refletia Don sobre as palavras de Nox em relação aos que ali morriam. Vermelho que borrifava. E se estivesse sendo apenas ludibriado? Se seguisse ordens de um psicopata viciado em morte? Mal conhecia aquele cara, nem o havia chamado para jantar, embora já tivessem almoçado juntos, fugido juntos...

-SAI DAÍ E ATIIIIRA AMIGO! ATIIIRA!

Fincava as unhas na parte de madeira da arma marrom em suas mãos. Rápida. Fatal. Automática. Seria automática sua reação aos tiros? Conseguiria se manter humano mesmo após estar ali, de pé, puxando o gatilho, presenciando corpos desabarem, gritos ecoarem, vermelho borrifando...

-VAI LOGO, CAAABRA! A GENTE TEM QUE LUTAR! – Nox gritava raivoso – SEI QUE VOCÊ DEVE ESTAR FILOSOFANDO SOBRE O CERTO E O ERRADO! MAS NÃO É QUESTÃO DE JUSTIÇA! É QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA!

Don Torino tomou ar. “Tomara”.

Tomou ar e coragem e saiu da proteção do tronco da árvore. No exato momento em que se expôs, algo o picou no pescoço. Levou a mão até o local da picada. Fora atingido por um tranquilizante. “Merda”, foi o que pensou. A ira, o desespero, a força, a vontade se esvaíram. A arma no chão caiu, os sentidos adormecendo... alguém vinha, berrava ao lado... mêêêêrda... mêêêrda... mêêããouuu?

Os “selvagens-vítimas” vinham. Três deles. Levantaram-no. Carregavam-no. Para onde...?

“Não façam isso! Seus desgraçados! Selvagens ignorantes! Deixem-me em paz! Larguem! Saiam!”, foi o que pensou.

-Nm... nã... nã...

Foi o que disse. Balbuciava incapaz.

-Nãã...



Enquanto isso Nox atirava e berrava, ensanguentado.

-HALULU! HALULU! HALULU!

Nem percebia as balas que o perfuravam...

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