A Valquíria Zero - Capítulo IV - Um Golpe, Um Minuto, Uma Palavra

Olá, pessoal!

Gostando das obras? Eu sei, são boas mesmo. :P

Bom, não vou fazer muitos rodeios aqui. Apenas que se sentem confortavelmente, e leia mais esse maravilho capítulo de A Valquíria Zero. Agora a história começa a pegar fogo. Um pouquinho de ação nunca é demais! 

Boa leitura a todos!

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Capítulo IV: Um Golpe, Um Minuto, Uma Palavra


A ponte arco-íris era extensa. A valquíria já caminhava, solitária, por ela há alguns dias. Claro, a solidão alongava ainda mais a viagem, entretanto nada disso fazia qualquer diferença, afinal o tempo mantinha-se a seu favor.

Assim que terminasse de atravessar a Bifrost, teria que seguir a estrada rumo à Niflheim, e então viajar através das montanhas geladas. Caminhada longa, cheia de perigos, os quais estranhamente não apareceram.

Esse senso de segurança exaltava o silêncio que flutuava pelo ambiente e que tentava provocar a mente da valquíria, deixa-la louca, a cada passo, a todo momento. Este talvez fosse o motivo pelo qual nenhum ser em sã consciência viajaria sozinho pelo enorme conjunto de cores, componentes do arco-íris imponente que forma a Bifrost.

Diante de tal silencio, os sons dos passos se tornavam altos demais, ensurdecedores talvez, porém, também destacava os sons que vinham de longe. E foi graças a esse efeito que a valquíria pôde ouvir uma conversa um tanto quanto estranha...

–– Hugin, olha lá, um viajante...

–– UMA viajante Munin. Olha só que corpo! Forte, porém, sensual, incrível.

Ao ouvir as vozes, Zero rapidamente sacou Dainsleif, enquanto girava rapidamente na direção em que os sons vinham.

Não havia nada. Nem mesmo um sinal de vida. Era como se espíritos estivessem falando com ela, e isso a incomodava. Ela já havia tido sua cota de atividades espirituais, não queria ter mais problemas com isso. Assim que percebeu que não havia ninguém – espíritos incluídos – por perto, embainhou a espada.

–– Não posso deixar que tomem a minha sani- –– Com um movimento rápido, a valquíria girou novamente, voltando à sua posição original, e com a mão direita, agarrou algo: um corvo. –– Tu achaste mesmo que seria enganada de forma tão pífia? –– Esbravejou.

–– Haaaaa!! Solta o Munin! –– Um segundo corvo apareceu, vindo como uma flecha do céu, o que não adiantou muito, já que ele acabou sendo parado facilmente com a mão esquerda da valquíria, que também o agarrou.

Zero olhou friamente para os dois corvos. A valquíria, por diversas vezes, presenciou as mais diversas bizarrices que o universo podia lhe oferecer, mas aquela era a primeira vez que via corvos falarem. Ambos se debatiam, na esperança de serem libertados das “garras” da valquíria.

–– Hugin... sua estratégia não deu certo... –– O corvo da direita murmurou, certamente amedrontado.

–– Foi você que quis ir atrás dela! Você ficou dizendo que ela era sensual e tudo mais! –– O corvo da esquerda, que se chamava Hugin, fazia um escândalo enquanto se debatia na mão da valquíria.

–– Você que é o tarado! Quem disse que ela era sensual foi você! Eu até confundi ela com um hom- –– O corvo chamado Munin que até então falava descontroladamente, foi lentamente cessando suas reclamações e acusações, e então passou a tentar se defender rapidamente. –– Foi o Hugin! Por favor, me deixa ir, pode comer ele, eu deixo! Só me dei-

O olhar frio da valquíria o fez parar de falar instantaneamente. Era como se aqueles olhos, que antes apenas observavam, penetrassem fundo na alma dos corvos, que passaram a se encolher de forma inacreditável. Assim que ambos os corvos ficaram em silencio, Zero pôde se pronunciar.

–– Finalmente calou este maldito bico. O que vocês planejavam fazer? –– Zero perguntou, ignorando todas as besteiras ditas pelo corvo anteriormente. –– Certamente não era me ferir. –– A valquíria riu.

–– N-nada... só estávamos passando. –– Munin declarou, gaguejando.

Zero apenas meneou com a cabeça, sem dizer nada. Esse simples gesto fora processado no mesmo instante pelos corvos, que não demoraram para contar toda a verdade.

-–- Tá bom! Fomos mandados para entregar uma mensagem para Hel. –– Hugin revelou, cuspindo0 palavras.

A valquíria ficou surpresa ao ouvir o nome da rainha do submundo.

–– Ah é mesmo? Quem diria... –– Zero disse. –– E quem os enviou?

Os dois corvos entreolharam-se.

–– O Senhor Odin. É uma mensagem avisando que uma valquíria estava a caminho de Helheim. –– Munin falava rapidamente, nervoso.

–– Por um momento pensei que teria que matá-los. –– A valquíria soltou ambos os corvos. –– Geralmente eu não deixaria vocês irem, mas farei uma exceção. Vão logo entregar a mensagem.

Hugin e Munin voaram rapidamente para longe da mulher loira, seguindo viagem rumo à Helheim.

–– A mensagem não falava isso... –– Munin murmurou.

–– Eu sei, Munin. Você acha que eu diria a verdadeira mensagem pra ela? –– Munin ficou em silencio. –– Só acho que Odin está querendo demais... será impossível até para Hel.

–– O que fazer então?

–– Torcer para que eu esteja errado.



***


A noite havia chegado quase no mesmo momento em que Zero terminara de cruzar a Bifrost. Os olhos e o corpo da valquíria agradeceram aos deuses quando ela avistara a Estrada Principal.

À margem da estrada, uma enorme floresta se estendia, e foi por aquele conjunto de árvores e folhas enormes que a valquíria resolveu adentrar. Zero precisava de um local para acampar, e não podia fazer isso em meio à estrada. Além disso, ela também não queria chamar atenção indesejada. O seu cansaço já a consumia. Ela não queria ter que batalhar, embora sua espada ansiava por sangue.

Os pensamentos sanguinários tomavam conta da mente da valquíria, que tentava conter o poder maligno da Dainsleif. Uma aura vermelha emanava da espada. Há tempos que esse sentimento de raiva não a consumia, o sentimento que lhe deu um destino.

“Uma valquíria selvagem” era o que diziam da sua personalidade e de suas habilidades. A falta de controle havia lhe dado uma má fama, pior do que a que já tinha. Alguns debochavam dela, jogando em sua cara seus dons e virtudes. Já outros, desenvolveram uma repulsão estranha. Uma espécie de medo, que a valquíria aprendeu a usar a seu favor.

O medo passou a alimenta-la, deixando-a mais forte. Passou a usá-lo de forma estratégica, refinada, e assim, tornava-se cada vez mais infame.

Quanto mais infame se tornava, um novo apelido lhe era dado, e com ele, Zero ganhava uma nova virtude. Ela sempre soube transformar os seus “defeitos” em armas. E a cada nova arma, um novo apelido. O ciclo repetia-se infinitamente.

Por fim, “A valquíria do infinito” foi seu último apelido. Não porque cansaram de inventar apelidos estranhos ou coisas do tipo, mas sim porque isso condizia com as habilidades físicas e mentais da valquíria em questão.

Sua mente era capaz de processar tudo que acontecia a sua volta, e assim se adaptar às situações mais adversas. Seu corpo acompanhava a sua mente, e assim mantinha um equilíbrio perfeito entre o corpo e a alma.

Não importava em que situação Zero se encontrasse, ela acharia uma maneira de solucionar quaisquer problemas enfrentados.  Ela era o verdadeiro infinito, em todos os infinitos sentidos.

Entretanto, mesmo sendo muito bem falada nos tempos atuais, Zero nunca conseguiu deixar de ser a valquíria selvagem que tanto diziam antigamente. Atualmente, conter a sua sede de sangue, se provou ser um tanto quanto difícil. O universo não é gentil, a morte reina, e isso atrapalha qualquer pensamento bondoso.

Nenhum desses pensamentos ajudá-la-iam, portanto, decidiu guarda-los. Evitar era o melhor caminho. Por enquanto.

Prosseguiu com sua viagem. Os arbustos dificultavam a passagem da valquíria, que passou a corta-los com golpes horizontais de um lado a outro, a fim de abrir caminho.

Não demorou muito para que Zero encontrasse um local apropriado para acampar. Não esperou muito para finalmente montar o acampamento, afinal, não dormia há cinco dias.

Construiu uma espécie de barraca com o que encontrou na floresta, e acendeu uma fogueira. Ficou sentada, vendo as chamas dançarem diante de seus olhos.

Subitamente, o silêncio que antes parecia tentar lhe enlouquecer, passou a acalma-la. Uma leve brisa fazia as folhas verdes das árvores farfalharem.

A sua consciência finalmente ia se afastando, dando lugar ao mais puro e absoluto nada.
Quem sabe dessa vez, só dessa vez, o sono lhe faria bem.

Talvez dessa vez, a deusa dos sonhos seja gentil com a jovem valquíria.

Talvez...


***

O sol aparecia novamente no céu, e Zero levanta-se calmamente. Já dormiu muito tempo, e, mesmo precisando apressar o passo, não o fazia. Sentou-se em frente às cinzas da fogueira. O cheiro de madeira queimada não a agradava.

Olhou em volta. Nenhum sinal de vida. O silêncio continuava lá, incomodando-a. Mesmo assim, uma sensação de que alguém estava vigiando-a, permanecia vagando pela sua mente.

Incontáveis foram as vezes em que Zero, volta e meia, conversava consigo mesma, na esperança de que alguém – que nunca esteve lá – a ouvisse. Um costume que acabou deixando de lado.

Zero levantou-se. Já não podia deixar que a preguiça a dominasse por mais tempo. Entretanto, nem sempre as coisas saem como o planejado...

–– Onde estão? Maldição!

Todas as suas armas haviam sumido. Não só isso. Os suprimentos também haviam sido roubados. Não importava para qual direção a valquíria tornasse a olhar, nada havia para ser visto. Apenas árvores e arbustos.

 –– Hm...? –– Zero surpreendeu-se ao perceber algumas pegadas. Poderia ser uma trilha falsa, para evitar que a valquíria encontrasse os ladrões. Precisava analisar com cuidado a situação.

Ao menos foi isso que ela pensou.

Ao se agachar para analisar as pegadas, Zero pôde sentir uma presença desconfortante. Alguém aparecera atrás dela. Um homem de cabelos loiros estava ali, a observando, com um sorriso no rosto. A malícia velejava em seus olhos azuis.

–– Foi você, Fafnir? Já não basta ter um tesouro imensurável escondido? –– Zero perguntou, ainda de costas para Fafnir.

–– Por incrível que possa parecer, não roubei tuas coisas. –– continuou a sorrir. –– Um anão e um elfo fizeram.

–– O que um anão e um elfo estariam fazendo juntos?

–– Vai saber... –– Fafnir deu de ombros. –– Sabe, Zero, não vim aqui para isso.

–– É mesmo? –– Zero perguntou, era possível captar o sarcasmo em sua voz.

Fafnir, que antes aparentava ser um simples humano, provou ser algo a mais. Seus olhos azuis escureceram por completo. Em sua pele, escamas violetas se formavam.

–– Pois é... –– Nem mesmo sua voz era a mesma. O homem havia se transformado em um dragão violeta tenebroso. –– Ainda não esqueci do nosso último encontro.

–– Ah... –– A valquíria suspirou. –– Por que tanto rancor?

Fafnir avançou subitamente, levando as suas garras a poucos centímetros de Zero. O golpe seria certeiro e mortal, entretanto, Fafnir não esperava que mesmo de costas, a valquíria teria tamanha agilidade e reflexos.

O dragão golpeou o ar. Ao perceber seu erro, Fafnir procurou entrar em posição defensiva. Sabia o que estava por vir.  

Zero, que havia desaparecido momentaneamente, aparecera novamente na frente de Fafnir, com seu punho cerrado, pronta para soca-lo. O dragão riu, confiante.

–– HAHA! O QUE ACHAS QUE VAIS FAZER COM ESTE PUNHO FRÁGIL? PELO JEITO ESTÁS LOUCA PARA QUEBRA-LO!

Sem hesitar, a valquíria continuou com o golpe. Seu punho se chocou brutalmente com os braços cruzados do dragão, que no primeiro momento, pareceu não sentir o golpe.

–– HAHAHA! Que pena... parece que quando não tens tuas armas, ficas indefesa... –– Fafnir ria. –– Quem sabe se tu fosse uma valquíria padrão, poderias me derrotar! Sabe, usando aqueles fogos de artificio chamados “magia”.

Zero sorriu. Parece que Fafnir não percebeu a sua estratégia. A valquíria, então, levantou o dedo médio, anelar, e mindinho.

–– Você cairá diante a mim. E serão necessários apenas: Um golpe, um minuto, e uma palavra.

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