Dose dupla de Light Novel ! Com isso finalizamos a introdução e damos início ao primeiro arco da série~ Boa leitura!
Chiharu
Capítulo 7
— Hã!? O que você está dizendo!?
O
presidente do conselho estudantil ajeitou sutilmente os óculos e reafirmou a
pegada na papelada que carregava debaixo do braço esquerdo.
— Como eu disse, vocês precisam de 5 membros efetivos
para poder criar um clube.
Yuragi
estava completamente irada. Nós tínhamos ido até a sala do conselho estudantil
para tentar colocar Rakuen como a banda oficial da escola, mas as regras não
nos permitiriam. Eu olhei para Osakura e depois para Nekogami, buscando uma
resposta para a situação. Yuragi virou de costas com um "hmpf!"
convencido e abriu caminho entre nós.
— Bom, se
vocês não tem mais nada a tratar, com licença.
O
presidente se virou e entrou na sala do conselho, proferindo algumas palavras
para iniciar uma discussão com os outros membros lá dentro. Nós fomos atrás da
ruiva inflamada e a encontramos batendo pé logo no próximo corredor.
—
Inacreditável, que regras estúpidas!
— Calma aí,
faísca. Tudo que precisamos fazer é conseguir um quinto membro, não é?
Yuragi
não pareceu gostar nada do apelido que Osakura deu pra ela.
— Vocês
conhecem alguém que possa ser o quinto membro? De preferência alguém que
cante...
— O que tem
de errado com o vocal!?
Yuragi
me indagou com as mãos na cintura. Eu ri sem graça junto com os outros dois.
Acho que ela era a única que não se tocava.
Na
semana passada...
. . .
Eu
e Shizuka continuamos de mãos dadas mesmo depois que a música acabou. Os três
integrantes nos olharam satisfeitos, mas aquela satisfação fez a guitarrista
querer tocar mais. Ela agarrou um microfone que estava ali encostado com
vontade, fazendo os dois rapazes tremerem nas bases. Eu me perguntei o porquê
daquilo, mas minha dúvida foi sanada segundos depois.
A
voz horrenda e estrondosa ecoou por toda a vizinhança, cantando, ou melhor,
gritando uma letra irreconhecível.
Minha
reação inicial foi tapar os meus ouvidos. Ao ver Shizuka fechando os olhos eu
resolvi tapar os ouvidos dela e tentei o máximo que pude aguentar. Mais alguns
segundos e meus tímpanos...
O
som de repente fica mais baixo, mas não menos horrendo.
Akakyo,
salvador da pátria, havia arrancado o cabo do microfone do amplificador,
deixando-nos apenas com a voz "natural" da garota, que parou de
cantar ao perceber o ato de seu irmão. Eu caí de joelhos apoiado na cadeira de
Shizuka e respirei aliviado.
— Ei, por
que você fez isso!?
Mesmo
naquele momento ela não tinha se tocado.
. . .
— Bom,
como eu posso dizer... O mundo não está preparado para sua voz ainda, Yuragi.
— Mas o que
diabos você... Espera aí, do que você me chamou?
Eu
acabei chamando ela pelo primeiro nome sem querer. Imediatamente eu acabei
corando enquanto tentava pensar em algo para usar como desculpa. Antes que meu
cérebro pudesse trabalhar em algo, no entanto, Osakura já estava me dando
cutucões com o cotovelo.
— Oh...
Então vocês já chegaram nesse nível, não é?
Eu
olhei para o irmão temendo uma represália em forma de punhos, mas felizmente
ele não parecia estar tirando conclusões precipitadas. Eu desviei um pouco o
olhar e me ocorreu um pensamento.
— Seria
estranho se eu ficasse chamando vocês dois de Nekogami, não é?
Eu
disse enquanto apontava o dedo exageradamente para a cara dos dois. Que
patético.
— E por que
você não chama ele pelo nome então? É bem menos estranho!
— Bom... É
por que eu já chamava ele assim antes, e você chegou depois, então é por isso!
Eu
cruzei os braços e concordei comigo mesmo. Meu raciocínio parecia infalível.
Akakyo passou o braço pelo pescoço de sua irmã e a abraçou, fazendo com que ela
tentasse se livrar da pegada.
— Ei, me
solta!
— Bom,
seria esquisito você chamar minha irmã pelo nome e continuar me chamando pelo
sobrenome. Pode me chamar de Akakyo também.
— Ei, eu
também! Me chame de Kai!
Eu
sorri. Isso é bom! Parecia que estávamos ficando cada vez mais próximos.
— Certo, eu
entendi. Mas ainda temos o problema do quinto membro, não é?
O
alvo ficou pensativo; uma cena realmente rara.
— Bom, é
verdade. Vocês conhecem alguém que poderia querer participar?
Yuragi
finalmente se livrou do abraço sufocante do irmão e estava apoiada numa parede
para recuperar o fôlego. Akakyo deu um passo a frente.
— Bom, eu
não tenho certeza, mas tem algumas pessoas a quem eu poderia perguntar. Acho
que todos deveríamos perguntar aos nossos conhecidos. Podemos dar uma volta na
escola e nos encontrar nos bancos lá fora daqui a uns... 30 minutos? "
— Sim, tudo
bem. Ei, Yuragi, nos ajude, ok?
Ela
olhou pra mim com um olhar venenoso, mas mostrou que havia entendido. Eu dei as
costas com um cumprimento e comecei a andar pela escola. Eu não acho que eu
tenha alguém a quem perguntar... Bom, mas pelo menos contornamos o assunto do
problema da voz de Yuragi. Me dá arrepios na espinha só de lembrar.
. . .
Eu
caminhei por um bom tempo com as mãos nos bolsos. Por mais que olhasse ao
redor, eu sabia que não ia encontrar alguém para convidar. A verdade é que meus
únicos amigos já estão procurando outra pessoa... Eu suspirei. Mas assim que
levantei a cabeça, vi uma figura familiar indo na direção do portão da escola.
Kurou Yami. Se ela está indo embora agora quer dizer que ainda não entrou em
nenhum clube, não é? Além disso, naquela vez... A voz dela era realmente linda.
Se ela entrasse para a banda da escola certamente seria um sucesso. Mas era
perigoso... Ela se afastou um pouco demais. Se eu ficar aqui mais tempo eu vou
perder a minha oportunidade! Eu corri na direção dela.
— Kurou...
Não, Yami-san!
Ela
se virou e me deu um olhar que dizia: "ah, é você."
— Hum,
bom... Er... Olá.
— Oi.
Droga,
sempre que estou perto dessa garota eu acabo ficando sem palavras, e minha
cabeça é atacada por uma coceira chata e inexplicável. Eu desviei o olhar e
deixei escapar uma risada sem graça.
— Haha... Sabe,
Yami-san, eu estava pensando se...
Ela
suspirou a medida que eu falava e então lançou um olhar firme nos meus olhos.
— Você
realmente devia parar de...
Não.
Eu não quero mais viver com medo dos outros desse jeito. Medo do que os outros
podem pensar ou fazer. Eu firmei os punhos ao lado do meu corpo e falei num tom
mais alto que o dela.
— Você quer
entrar no clube de música!?
Ela
se surpreendeu, abrindo um pouco a boca em choque. Eu a entendo, nem mesmo eu
esperava que eu fosse ter essa reação. O silêncio não é algo bom agora, eu
tenho que continuar falando.
— Sabe,
nossa escola não tem uma banda... Estranho, não é? Eu e meus amigos estamos
tentando revive-la, mas não temos um cantor ou uma cantora. Você sabe, sua voz
é linda e... Eu tenho certeza que se você entrasse no clube nós cinco
conseguiríamos realmente ser muito bons!
Ela
abaixou um pouco olhar. Será que ela está pensando no assunto? Eu senti o rosto
dela corar um pouco e fiquei pasmo automaticamente. Ela ficou linda daquele
jeito. Ela se virou de costas e se pronunciou.
— Eu não
posso. Encontre outra pessoa.
— E-ei...
Eu
queria insistir, mas não consegui. Tudo que pude fazer foi dizer um ei
vacilante e erguer a mão esquerda na direção dela a medida que ela se afastava.
Em poucos instantes, eu já não podia vê-la.
Eu
falhei.
. . .
De
volta ao interior da escola, eu senti que não tinha mais opções. Passando por
um corredor, eu vi uma figura familiar. Era uma garota baixinha de cabelos
pretos de costas para mim. É verdade, eu havia esquecido completamente da
existência dela... Mas será que eu deveria convida-la? A essa altura o pessoal
já deve ter achado alguém, tenho certeza... Melhor não. Mas... Será que ela
sabe cantar? Não, melhor não. Mas... Eles podem não ter achado ninguém... E se
todos acharam alguém menos eu? O que eu faço...
Eu
continuei dando passos pra frente e parando a medida que pensava no que fazer.
Por fim eu cedi e decidi chama-la.
— Ei,
Yuujimura!
Ela
se virou mecanicamente pra mim, com os olhos e o rosto cheio de lágrimas
juntamente com aquele beicinho clássico. Fora isso podia-se ver claramente
catarro saindo do nariz dela. Eu dei um passo pra trás e coloquei um braço na
frente do corpo para me proteger da visão assustadora. Parece muito com uma
criança...
— O... O
que houve?
—
Maaakoooto-san!
Ela
veio chorosa na minha direção e me abraçou de uma forma que eu não consegui me
livrar dela. Eu decidi afaga-la na cabeça pra tentar amenizar seu sofrimento
que eu nem sabia de onde vinha.
— Eles recusaram!
Recusaram meu clube!
Ah,
então era isso. Eu sorri sem graça. Para qualquer pessoa normal, aquilo era
óbvio, não é?
— Eles
disseram que eu precisaria ter 5 membros até o fim da semana, mas... mas...
E
então ela voltou a soluçar. Eu afaguei sua cabeça novamente tentando acalma-la.
— Calma,
calma... Quantos membros você conseguiu?
— ... Um.
— Além de
você?
— ... Não,
contando comigo.
Ah.
—
Entendo... Sinto muito.
— É, sinta
mesmo! É tudo culpa sua! Tudo por que você nunca mais foi lá brincar! "
Ela
começou a me dar socos nos ombros, que mal machucavam. Mas mesmo que você diga
isso, teríamos apenas dois membros...
— Ei,
Yuujimura, você quer entrar pro meu clube?
— ... Eh?
Ela
parou de chorar, embora a cabeça dela ainda estivesse enterrada em meu peito.
— Eu e o
pessoal estamos tentando reavivar o clube de música. Por que você não entra
também?
Ela
me empurrou, olhando diretamente nos meus olhos. Eles estavam brilhantes como
se ela tivesse acabado de ganhar um presente do Papai Noel.
— Você está
falando sério? Sério, sério mesmo!?
— Sim, é
sério.
— Yay!
Ela
começou a correr e pular por aí, o que me fez colocar as mãos na cintura e
sorrir. Quando ela finalmente parou, ela fechou dois punhos na frente do corpo
e me olhou com um olhar determinado.
— Beleza,
vamos fazer isso!
. . .
Com
a mesma expressão determinada ela ficou até a hora de nos encontrarmos nos
bancos. Para minha surpresa, eu era o único que tinha trazido alguém. Eu tinha
que mostrar minha indignação, mas os três também pareciam bastante indignados
com o alguém que eu tinha trazido.
— Ela?
Sério?
— Cale a
boca, ruivinho, você não trouxe ninguém, não foi?
— Todos os
que eu conhecia já estavam num clube ou não tinham tempo, não é culpa minha.
— É, o
mesmo aconteceu comigo.
Os
dois garotos concordaram quanto ao que havia acontecido, mas Yuragi ainda não
havia se pronunciado.
— E você,
qual a sua desculpa?
— Não posso
fazer nada. Todos os que eu me aproximava para perguntar algo se afastavam com medo
de um fantasma ou sei lá.
Eu
podia imaginar a cena. Mas a culpa é inteiramente sua.
— Hum...
Prazer em conhece-los! Meu nome é Yuujimura Hanabi, eu tenho 15 anos e estou no
primeiro ano! Estou contando com vocês daqui pra frente!
Você
não precisa ser tão formal...
Yuragi
sorriu satisfeita e deu um soco na palma aberta da outra mão.
— Tudo bem
então. Vamos começar os testes.
. . .
— Por que
eu tenho que participar também!?
De
alguma forma nós conseguimos permissão para usar um pequeno auditório que era
utilizado pelo clube de música no passado. Apesar de ser bem pragmático, acho
que o presidente do conselho estudantil era uma boa pessoa. Lá haviam alguns
instrumentos num estado semi-conservado, mas tudo estava limpo e livre de
poeira. Eu e Yuujimura fomos obrigados a nos sentar na fileira da frente,
enquanto os outros três estavam de pé sobre o palco.
— Muito
bem, vamos começar os testes de admissão de membros da Rakuen!
Os
dois garotos aplaudiram as palavras da ruiva, junto com a garota menor
entusiasmada ao meu lado.
— Quem quer
começar?
Ela
parou bem na beira do palco. Aquela saia... Isso é perigoso... Eu comecei a
deslizar até ficar quase deitado na cadeira, e então inclinei o pescoço. Mais
um pouco e eu vou conseguir...
Grande
erro. O espírito masculino que conecta os homens acabou avisando Akakyo das
minhas intenções. Ele acabou pegando o primeiro objeto que conseguiu encontrar
- um microfone - e arremessou ele contra o meu rosto. Que mira. O objeto
assassino me atingiu bem no meio da testa, me fazendo retornar a posição
original ao entender o recado. Felizmente pra mim, Yuragi parecia não ter
entendido, ou eu já estaria morto.
Hanabi
se levantou e se voluntariou para ser a primeira. Ela foi até o palco e recebeu
um violão de Kaioshi. Os três então desceram e foram para onde eu estava.
Hanabi fechou os olhos e respirou para se acalmar. Após alguns segundos ela
começou a bater os dedos aleatoriamente no violão, enquanto gritava uma melodia
de uma vogal só. Nós quatro ficamos com cara de bunda enquanto víamos aquilo.
Para minha felicidade, não era nada tão horrendo quanto a voz de Yuragi. Quando
ela terminou nos forçamos a bater palmas desritmadas e eu me levantei para
tomar o lugar dela no palco. Sem saber direito o que fazer com o instrumento de
cordas, eu simplesmente dei um toque em todas as cordas, começando da mais
grossa e declarei aquilo o fim da performance.
Me
senti ofendido por não receber aplausos e ainda a vaia vinda da morena do
primeiro ano.
O
próximo teste foi numa bateria. Hanabi apenas bateu aleatoriamente nos tambores
fazendo um barulho sem nenhum nexo. Sem conseguir mais aguentar ver uma bateria
sendo tratada daquele jeito, Kaioshi se levantou e tomou as baquetas da mão
dela. O resultado foi aquele beicinho mais uma vez. Na minha vez, eu passei
alguns segundos pensando no que ia fazer. No fim das contas, dei apenas três
toques que formaram um som de "Tum dum tss". Kaioshi particularmente
achou bastante engraçado. Akakyo levou a mão até a testa ridicularizando meu
ato e Yuragi fechou um punho e disse insultos silenciosos ao vento. Eu sorri.
Em
seguida tentamos no baixo.
— Mas que
droga de instrumento é esse!? Nem faz barulho!
— Ei, não
fale assim do baixo!
Akakyo
tomou o baixo das mãos dela e esfregou seu rosto carinhosamente no instrumento.
— Um baixo
é a alma de toda a música, a base na qual uma canção se constrói! É pura arte!
— Hunf!
Hanabi
deu um chute na canela de Nekogami, fazendo-o grunhir de dor e saltar segurando
sua perna. Nós três rimos.
Aquilo
continuou por mais um tempo com todos os instrumentos que achamos por ali.
Flauta, trombone, guitarra, violino... No fim das contas o que parecia ser um
teste idiota acabou sendo divertido. Acho que já experimentei essa sensação
antes... Foi quando me lembrei. Foi o mesmo no dia que fui no clube de dança
com fantoches com aquela garota. Eu nunca tinha participado de um clube antes,
então talvez essa seja a sensação... Ou talvez consigamos nos sentir assim
quando estamos rodeados de amigos.
Eu
não quero que essa sensação acabe nunca.
Tentamos
cantar também, mas foi uma negação, totalmente sem ritmo. Não conseguimos fazer
nada, afinal. Osakura coçou a cabeça, olhando para a pilha organizada de
instrumentos que fizemos.
— Isso não
é bom, o que vamos fazer?
Eu
olhei para o horário no celular.
— Podemos
pensar nisso depois. Acho que se corrermos agora podemos nos registrar ainda
hoje.
— Ok, então
vamos!
— Esperem!
Isso quer dizer que eu entrei no clube?
Hanabi
juntou as mãos, maravilhada. Akakyo consentiu.
— Sim! A partir
de hoje nós somos Rakuen!
. . .
Nós
nos apressamos para ir até a sala do conselho estudantil. A escola estava vazia,
e não vimos ninguém no caminho, mas ainda tínhamos esperanças de que a reunião
houvesse demorado. Para nossa sorte, alcançamos o presidente saindo sozinho e
trancando a sala. Nós diminuímos a velocidade imediatamente. Ele olhou curioso
na nossa direção. Eu tinha certeza que ele daria uma represália sobre corremos
nos corredores, mas eu fui mais rápido.
—
Presidente, nós conseguimos os cinco membros pro clube.
— Então
vocês precisam preencher o formulário e...
— Aqui.
Yuragi
tirou da pasta dela um formulário que eu não vi ela preencher. Nele continha
informações sobre o clube e seus membros. O presidente ajeitou os cabelos azuis
para não cobrirem os olhos e coçou o queixo ao passo que lia.
— Aqui não
consta a função de cada membro. Eu preciso disso para validar o clube.
O
presidente tirou uma caneta do bolso e apoiou o papel sobre uma prancheta que
segurava. Ele olhou para a ruiva esperando as instruções dela.
— Nekogami
Akakyo é o baixista. Nekogami Yuragi é a guitarrista líder. Osakura Kaioshi como
baterista. E...
Ela
olhou pra mim, vacilante sobre a minha posição e a de Hanabi. O presidente
lançou um olhar para ela por cima dos óculos, avaliando-a. Hanabi tomou a
frente e fez dois símbolos de paz e amor pro ar.
— Eu sou a
fã número um!
Eu
imediatamente tapei a boca dela, fazendo-a espernear numa tentativa de se
libertar. Eu ri sem graça para o presidente, tentando fazer da frase séria da
garota uma piada.
— Ela está
brincando! Nós dois estamos nos bastidores. Eu sou da iluminação, ela é a
técnica de som.
— Entendi.
Ele
terminou de anotar e guardou o formulário na pasta dele.
— Está tudo
pronto, agora vocês podem se considerar o clube da banda da escola.
Ele
fez uma pausa.
— Vocês
três estão no terceiro ano, não é? Tem certeza que é prudente começar um clube
agora?
É
verdade que nossas notas não vão nada bem. De nenhum de nós. Pensando bem, acho
que isso faz de nós o clube das notas vermelhas. Mas...
— Vamos nos
dedicar. Vamos continuar melhorando nossas notas, não vamos deixar que o clube
nos atrapalhe.
Os
outros dois concordaram.
— É bom
ouvir isso.
Ele
se virou de costas e começou a se afastar.
— Boa
sorte.
Ele
sumiu de nossas vistas. Nós todos sorrimos uns para os outros com nossa
conquista. A partir de agora, éramos Rakuen, a banda da nossa escola.
. . .
Caminhamos
juntos conversando até o ponto em que nos separávamos. Nos despedimos ali, mas
mesmo seguindo meu caminho, uma pessoa me seguiu. Eu olhei para trás e vi a
garotinha do primeiro ano cantarolando dois passos atrás de mim. Eu esperei um
pouco e caminhei lado a lado com ela.
— Que bom,
não é, Yuujimura? Você conseguiu um clube.
Ela
parou de cantarolar e sorriu pra mim.
— Sim! Tudo
graças a você, Makoto-san.
— Não, eu
não fiz nada.
Continuamos
caminhando por mais um tempo. Ela voltou a cantarolar a mesma música de antes.
— Será que
vamos nos sair bem nos bastidores?
Ela
tirou o fantoche de jacaré - ou seria um crocodilo? - de um bolso e aproximou
ele do meu rosto.
— Vai ficar
tudo bem! Rawr~!
No
fim da frase ela fez um som que tentava imitar um dinossauro. Eu sorri como
quem vê uma criança aprender algo novo.
— É,
provavelmente você está certa.
Nós
continuamos andando. Estamos quase chegando na minha casa... Onde fica a casa
dela, afinal?
— Ei,
Yuujimura, onde fica a sua casa?
— Pra lá!
Ela
apontou um caminho totalmente diferente do que estávamos indo. Minha mão foi
parar instintivamente na cara, acabando por bater um pouco mais forte do que eu
pretendia.
— E por que
você está me seguindo?
— Bom...
Ela
levou o dedo a boca, pensando.
— Não sei!
Ela
respondeu confiante. Minha reação deve ter sido hilária.
— Está
ficando tarde. Vamos, eu vou levar você até sua casa.
— Ah, isso
lembrou! Lá em casa eu tenho alguns equipamentos velhos dos meus pais que podem
servir para o clube da banda!
— Oh, é
mesmo?
— Sim!
Podemos levar pra sua casa!
— Hmm...
Eu
olhei o relógio no celular e pensei um pouco. Se não nos apressássemos ia
acabar ficando tarde demais para eu levar Nana em casa...
— Tudo bem,
mas temos que ir depressa.
— Vamos,
vamos!
Ela
me pegou pela manga do braço e começou a correr.
— Ah!
Espere!
Eu
corri atrás dela, mal conseguindo acompanha-la. A disposição de um corpo jovem
é mesmo impressionante...
. . .
— Au au!
"
Um
som de um latido. Yuujimura parou de correr e eu fui parando logo atrás. Ela
estava olhando para um beco. Será que é dali que o som veio? A garota se
aproximou e entrou no beco. Eu tentei enxergar o que ela estava fazendo
esticando o meu pescoço, mas acabei não precisando. Ela se virou com um
filhotinho de cachorro todo branco nos braços.
— Ele
parece estar perdido...
— Olhe só,
ele parece estar machucado também.
Eu
me aproximei e indiquei sua pata esquerda da frente. Ela estava manchada de
sangue, e o filhote parecia muito assustado. Hanabi se ajoelhou no chão e tirou
um lenço de um bolso do casaco. Depois de rasga-lo, ela improvisou uma bandagem
para a patinha do cachorro, que grunhia chorosamente a medida que ela ia
amarrando o pano.
— Calma, é
pro seu bem...
Olhando
ela desse jeito ela parecia menos como uma garotinha e mais como uma mãe. Eu
ainda não tinha conhecido esse lado dela... Ela olhou pra mim de uma forma que
eu sabia que ela ia me pedir algo.
— Temos que
achar a mamãe dela, Makoto-san.
— Entendi.
Eu vou dar uma olhada.
Eu
comecei apenas analisando aquilo que podia ver sem me mover. Não parecia ter
sinal de nenhum cachorro ou alguém procurando um cachorro naquele lugar, então
eu precisei andar e entrar em algumas ruas, prestando atenção para não me
perder. Eu nunca estive por aqui então qualquer erro me levaria a uma
desagradável e demorada volta para casa...
Eu
saí de um caminhar calmo para um apressado, e antes de perceber estava
correndo. Não sei se eu realmente fiquei preocupado com o filhotinho perdido ou
se eu simplesmente estou com pressa para chegar em casa logo. De qualquer
forma, a procura continuou por mais ou menos meia hora, até que eu avistei uma
cadela branca peluda num beco. A expressão dela parecia abatida... A cadela
estava amamentando 3 outros cachorrinhos idênticos aos que Hanabi trazia em
mãos um pouco atrás de mim. Eu sorri e olhei pra ela.
—
Encontrei!
A
garotinha se apressou e trouxe o filhotinho. A medida que nos aproximamos a
cadela começou a rosnar, dando latidos que fizerem Hanabi dar um passo para
trás. Mas ela juntou sua coragem e estendeu o filhote para a mãe. A cadela
farejou um pouco e lambeu o rosto do filhote, que balançou a cauda e se livrou
das mãos de sua transportadora humana. Ele brincou um pouco com seus irmãos
antes de começar a se alimentar também. Devia estar faminto...
A
cena me fez sorrir e sentir aquela sensação de trabalho bem feito.
— Haha, faz
cócegas!
A
mãe cadela lambeu as mãos de Hanabi em agradecimento. Acho que ela poderia
ficar brincando com aqueles cachorrinhos até o outro dia de manhã, mas eu dei
dois tapinhas no ombro dela, fazendo sua atenção se voltar a mim.
— Está
tarde, temos que ir pra casa.
— Certo.
. . .
O
sol poente deixava o céu naquele tom alaranjado de fim de tarde quando chegamos
na casa dos Yuujimura. Era uma casa pequena e simples, bem apagada diante de
suas irmãs vizinhas. Mesmo que eu olhasse para as janelas, elas estavam
cobertas com cortinas, e eu não podia ver o interior da casa. Minha curiosidade
só ficaria maior diante da fala da garota.
— Espere
aqui, eu vou buscar os equipamentos!
— Tudo bem,
eu espero.
Ela
destrancou a porta e entrou em casa. Eu estranhei por que ela não cumprimentou
ninguém ao chegar. Será que ela mora sozinha? Ou talvez os pais dela trabalhem
até tarde, ou estejam viajando... Para descobrir isso eu me dirigi até a placa
que indicava a família que morava ali. Lá estavam dois nomes: Yuujimura Hanabi
e Yuujimura Kouko. Entendi, então ela vive só com a mãe... No entanto havia
espaço para um terceiro nome, que estava estranhamente ilegível, como se alguém
tivesse riscado ele para ficar dessa forma. Enquanto eu remoía aquilo na minha
cabeça, a porta se abriu.
— E-ei!
Yuujimura
mal conseguia se equilibrar carregando aquelas duas caixas de aparência pesada.
Cobrindo a visão dela daquele jeito, ela também não sabia para onde ir, e
estava andando num zig-zag que culminou na sua quase queda, se não fosse eu
para segura-la.
— Cuidado com isso. Vamos, me dê elas.
— Não, eu
consigo carrega-las!
— Não seja
estúpida, vamos logo.
Ela
pensou um pouco na sua própria situação. Vamos, bom senso da Hanabi, aja!
— ... Tudo
bem, eu vou te dar a mais pesada.
Ela
mostrou que a caixa de baixo seria a mais pesada para eu pegar, e assim eu fiz.
Para mim não seria tão pesado mesmo que as duas tivessem aquele peso, mas
imaginei que ela não devia ter muita força física para carregar aquela
quantidade de peso. Claramente aliviada, ela endireitou a coluna e se esticou.
— Vamos.
Voltamos
a caminhar, dessa vez na direção da minha casa. O céu já havia escurecido
completamente. Eu voltei a pensar na minha situação. Eu teria que levar Hanabi
de volta em casa para então voltar pra casa para então levar Nana em casa e
então poder, finalmente, ter um merecido descanso. Minhas pernas já protestavam
de antemão, ainda mais com todo o trabalho que tive de encontrar a mãe do
cachorrinho.
O
movimento ali estava cessando e as lojas começavam a fechar. Não se via quase
ninguém na rua, e o silêncio regia o local. Exceto pela voz da garota, que mais
uma vez, cantarolava a mesma canção de antes.
— Que
música você está cantarolando?
— Hm? Ah,
essa música é da minha mãe.
— Ah, é
mesmo? Que tipo de mãe você tem, Yuujimura?
— O tipo
coruja, eu acho!
— Haha,
entendo...
Eu
fiquei sem graça e nostálgico ao mesmo tempo A minha mãe também era assim...
Vivia pegando no nosso pé pra tudo.
— Ainda
falta muito?
Ela
estava encontrando o limite do seu esforço. Mesmo com a caixa mais leve, os braços
dela tremiam um pouco.
— Pare um
pouco aqui.
Eu
parei e deixei minha caixa no chão. Ela ainda tinha que dar uns passos para me
alcançar e só então soltar o peso da caixa dela ao lado da minha.
— Falta,
pouco. Nós só temos que...
— Ei,
vocês.
O
quê?
Eu
não esperava que ninguém fosse falar conosco naquela hora da noite, então me
surpreendi. Quando eu comecei a me virar para ver quem era, uma mão pesada me
agarrou pelo ombro e encostou o cano de algo no meu peito. Meu olhar desceu
instintivamente.
Um
revólver.
Eu
ouvi o som de algo alto mas não senti a dor nem o líquido quente saindo do meu
corpo. O som na verdade era da caixa que a garota tinha derrubado ao cair de
joelhos no chão.
Pânico.
Seu
olhar era de puro pavor, e por nenhum momento se desviava dar arma no meu
peito. O homem na minha frente me empurrou para criar uma zona de segurança pra
ele e elevou a mira para a minha cabeça.
Ele
vai me matar...
Meu
corpo, que até agora não tinha demonstrado resposta foi tomado por um calafrio
aterrorizante. Eu queria gritar, mas minha garganta foi privada de voz.
— É melhor
darem tudo que vocês tem se não quiserem problemas.
Aquele
sorriso maldoso me fez sentir um misto de ódio e nojo junto com todas as minhas
outras emoções de medo e desespero.
Mesmo
que nossos rostos estivessem secos, eu senti como se estivéssemos chorando.
Mesmo
que o silêncio da noite fosse absoluto, eu senti como se estivéssemos gritando.
Mesmo
que ainda estivesse vivo, eu senti como se minha vida já não fosse mais minha.
. . .
Chiharu -
07
Pranto
Silencioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário