Chiharu - Capítulo 07



Dose dupla de Light Novel ! Com isso finalizamos a introdução e damos início ao primeiro arco da série~ Boa leitura!



Chiharu

Capítulo 7


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Hã!? O que você está dizendo!?

O presidente do conselho estudantil ajeitou sutilmente os óculos e reafirmou a pegada na papelada que carregava debaixo do braço esquerdo.

Como eu disse, vocês precisam de 5 membros efetivos para poder criar um clube.

Yuragi estava completamente irada. Nós tínhamos ido até a sala do conselho estudantil para tentar colocar Rakuen como a banda oficial da escola, mas as regras não nos permitiriam. Eu olhei para Osakura e depois para Nekogami, buscando uma resposta para a situação. Yuragi virou de costas com um "hmpf!" convencido e abriu caminho entre nós.

Bom, se vocês não tem mais nada a tratar, com licença.

O presidente se virou e entrou na sala do conselho, proferindo algumas palavras para iniciar uma discussão com os outros membros lá dentro. Nós fomos atrás da ruiva inflamada e a encontramos batendo pé logo no próximo corredor.

Inacreditável, que regras estúpidas!

Calma aí, faísca. Tudo que precisamos fazer é conseguir um quinto membro, não é?

Yuragi não pareceu gostar nada do apelido que Osakura deu pra ela.

Vocês conhecem alguém que possa ser o quinto membro? De preferência alguém que cante...

O que tem de errado com o vocal!?

Yuragi me indagou com as mãos na cintura. Eu ri sem graça junto com os outros dois. Acho que ela era a única que não se tocava.

Na semana passada...


. . .


Eu e Shizuka continuamos de mãos dadas mesmo depois que a música acabou. Os três integrantes nos olharam satisfeitos, mas aquela satisfação fez a guitarrista querer tocar mais. Ela agarrou um microfone que estava ali encostado com vontade, fazendo os dois rapazes tremerem nas bases. Eu me perguntei o porquê daquilo, mas minha dúvida foi sanada segundos depois.

A voz horrenda e estrondosa ecoou por toda a vizinhança, cantando, ou melhor, gritando uma letra irreconhecível.

Minha reação inicial foi tapar os meus ouvidos. Ao ver Shizuka fechando os olhos eu resolvi tapar os ouvidos dela e tentei o máximo que pude aguentar. Mais alguns segundos e meus tímpanos...

O som de repente fica mais baixo, mas não menos horrendo.

Akakyo, salvador da pátria, havia arrancado o cabo do microfone do amplificador, deixando-nos apenas com a voz "natural" da garota, que parou de cantar ao perceber o ato de seu irmão. Eu caí de joelhos apoiado na cadeira de Shizuka e respirei aliviado.

Ei, por que você fez isso!?

Mesmo naquele momento ela não tinha se tocado.


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Bom, como eu posso dizer... O mundo não está preparado para sua voz ainda, Yuragi.

Mas o que diabos você... Espera aí, do que você me chamou?

Eu acabei chamando ela pelo primeiro nome sem querer. Imediatamente eu acabei corando enquanto tentava pensar em algo para usar como desculpa. Antes que meu cérebro pudesse trabalhar em algo, no entanto, Osakura já estava me dando cutucões com o cotovelo.

Oh... Então vocês já chegaram nesse nível, não é?

Eu olhei para o irmão temendo uma represália em forma de punhos, mas felizmente ele não parecia estar tirando conclusões precipitadas. Eu desviei um pouco o olhar e me ocorreu um pensamento.

Seria estranho se eu ficasse chamando vocês dois de Nekogami, não é?

Eu disse enquanto apontava o dedo exageradamente para a cara dos dois. Que patético.

E por que você não chama ele pelo nome então? É bem menos estranho!

Bom... É por que eu já chamava ele assim antes, e você chegou depois, então é por isso!

Eu cruzei os braços e concordei comigo mesmo. Meu raciocínio parecia infalível. Akakyo passou o braço pelo pescoço de sua irmã e a abraçou, fazendo com que ela tentasse se livrar da pegada.

Ei, me solta!

Bom, seria esquisito você chamar minha irmã pelo nome e continuar me chamando pelo sobrenome. Pode me chamar de Akakyo também.

Ei, eu também! Me chame de Kai!

Eu sorri. Isso é bom! Parecia que estávamos ficando cada vez mais próximos.

Certo, eu entendi. Mas ainda temos o problema do quinto membro, não é?

O alvo ficou pensativo; uma cena realmente rara.

Bom, é verdade. Vocês conhecem alguém que poderia querer participar?

Yuragi finalmente se livrou do abraço sufocante do irmão e estava apoiada numa parede para recuperar o fôlego. Akakyo deu um passo a frente.

Bom, eu não tenho certeza, mas tem algumas pessoas a quem eu poderia perguntar. Acho que todos deveríamos perguntar aos nossos conhecidos. Podemos dar uma volta na escola e nos encontrar nos bancos lá fora daqui a uns... 30 minutos? "

Sim, tudo bem. Ei, Yuragi, nos ajude, ok?

Ela olhou pra mim com um olhar venenoso, mas mostrou que havia entendido. Eu dei as costas com um cumprimento e comecei a andar pela escola. Eu não acho que eu tenha alguém a quem perguntar... Bom, mas pelo menos contornamos o assunto do problema da voz de Yuragi. Me dá arrepios na espinha só de lembrar.


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Eu caminhei por um bom tempo com as mãos nos bolsos. Por mais que olhasse ao redor, eu sabia que não ia encontrar alguém para convidar. A verdade é que meus únicos amigos já estão procurando outra pessoa... Eu suspirei. Mas assim que levantei a cabeça, vi uma figura familiar indo na direção do portão da escola. Kurou Yami. Se ela está indo embora agora quer dizer que ainda não entrou em nenhum clube, não é? Além disso, naquela vez... A voz dela era realmente linda. Se ela entrasse para a banda da escola certamente seria um sucesso. Mas era perigoso... Ela se afastou um pouco demais. Se eu ficar aqui mais tempo eu vou perder a minha oportunidade! Eu corri na direção dela.

Kurou... Não, Yami-san!

Ela se virou e me deu um olhar que dizia: "ah, é você."

Hum, bom... Er... Olá.

Oi.

Droga, sempre que estou perto dessa garota eu acabo ficando sem palavras, e minha cabeça é atacada por uma coceira chata e inexplicável. Eu desviei o olhar e deixei escapar uma risada sem graça.

Haha... Sabe, Yami-san, eu estava pensando se...

Ela suspirou a medida que eu falava e então lançou um olhar firme nos meus olhos.

Você realmente devia parar de...

Não. Eu não quero mais viver com medo dos outros desse jeito. Medo do que os outros podem pensar ou fazer. Eu firmei os punhos ao lado do meu corpo e falei num tom mais alto que o dela.

Você quer entrar no clube de música!?

Ela se surpreendeu, abrindo um pouco a boca em choque. Eu a entendo, nem mesmo eu esperava que eu fosse ter essa reação. O silêncio não é algo bom agora, eu tenho que continuar falando.

Sabe, nossa escola não tem uma banda... Estranho, não é? Eu e meus amigos estamos tentando revive-la, mas não temos um cantor ou uma cantora. Você sabe, sua voz é linda e... Eu tenho certeza que se você entrasse no clube nós cinco conseguiríamos realmente ser muito bons!

Ela abaixou um pouco olhar. Será que ela está pensando no assunto? Eu senti o rosto dela corar um pouco e fiquei pasmo automaticamente. Ela ficou linda daquele jeito. Ela se virou de costas e se pronunciou.

Eu não posso. Encontre outra pessoa.

E-ei...

Eu queria insistir, mas não consegui. Tudo que pude fazer foi dizer um ei vacilante e erguer a mão esquerda na direção dela a medida que ela se afastava. Em poucos instantes, eu já não podia vê-la.

Eu falhei.


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De volta ao interior da escola, eu senti que não tinha mais opções. Passando por um corredor, eu vi uma figura familiar. Era uma garota baixinha de cabelos pretos de costas para mim. É verdade, eu havia esquecido completamente da existência dela... Mas será que eu deveria convida-la? A essa altura o pessoal já deve ter achado alguém, tenho certeza... Melhor não. Mas... Será que ela sabe cantar? Não, melhor não. Mas... Eles podem não ter achado ninguém... E se todos acharam alguém menos eu? O que eu faço...

Eu continuei dando passos pra frente e parando a medida que pensava no que fazer. Por fim eu cedi e decidi chama-la.

Ei, Yuujimura!

Ela se virou mecanicamente pra mim, com os olhos e o rosto cheio de lágrimas juntamente com aquele beicinho clássico. Fora isso podia-se ver claramente catarro saindo do nariz dela. Eu dei um passo pra trás e coloquei um braço na frente do corpo para me proteger da visão assustadora. Parece muito com uma criança...

O... O que houve?

Maaakoooto-san!

Ela veio chorosa na minha direção e me abraçou de uma forma que eu não consegui me livrar dela. Eu decidi afaga-la na cabeça pra tentar amenizar seu sofrimento que eu nem sabia de onde vinha.

Eles recusaram! Recusaram meu clube!

Ah, então era isso. Eu sorri sem graça. Para qualquer pessoa normal, aquilo era óbvio, não é?

Eles disseram que eu precisaria ter 5 membros até o fim da semana, mas... mas...

E então ela voltou a soluçar. Eu afaguei sua cabeça novamente tentando acalma-la.

Calma, calma... Quantos membros você conseguiu?

... Um.

Além de você?

... Não, contando comigo.

Ah.

Entendo... Sinto muito.

É, sinta mesmo! É tudo culpa sua! Tudo por que você nunca mais foi lá brincar! "

Ela começou a me dar socos nos ombros, que mal machucavam. Mas mesmo que você diga isso, teríamos apenas dois membros...

Ei, Yuujimura, você quer entrar pro meu clube?

... Eh?

Ela parou de chorar, embora a cabeça dela ainda estivesse enterrada em meu peito.

Eu e o pessoal estamos tentando reavivar o clube de música. Por que você não entra também?

Ela me empurrou, olhando diretamente nos meus olhos. Eles estavam brilhantes como se ela tivesse acabado de ganhar um presente do Papai Noel.

Você está falando sério? Sério, sério mesmo!?

Sim, é sério.

Yay!

Ela começou a correr e pular por aí, o que me fez colocar as mãos na cintura e sorrir. Quando ela finalmente parou, ela fechou dois punhos na frente do corpo e me olhou com um olhar determinado.

Beleza, vamos fazer isso!


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Com a mesma expressão determinada ela ficou até a hora de nos encontrarmos nos bancos. Para minha surpresa, eu era o único que tinha trazido alguém. Eu tinha que mostrar minha indignação, mas os três também pareciam bastante indignados com o alguém que eu tinha trazido.

Ela? Sério?

Cale a boca, ruivinho, você não trouxe ninguém, não foi?

Todos os que eu conhecia já estavam num clube ou não tinham tempo, não é culpa minha.

É, o mesmo aconteceu comigo.

Os dois garotos concordaram quanto ao que havia acontecido, mas Yuragi ainda não havia se pronunciado.

E você, qual a sua desculpa?

Não posso fazer nada. Todos os que eu me aproximava para perguntar algo se afastavam com medo de um fantasma ou sei lá.

Eu podia imaginar a cena. Mas a culpa é inteiramente sua.

Hum... Prazer em conhece-los! Meu nome é Yuujimura Hanabi, eu tenho 15 anos e estou no primeiro ano! Estou contando com vocês daqui pra frente!

Você não precisa ser tão formal...

Yuragi sorriu satisfeita e deu um soco na palma aberta da outra mão.

Tudo bem então. Vamos começar os testes.


. . .


Por que eu tenho que participar também!?

De alguma forma nós conseguimos permissão para usar um pequeno auditório que era utilizado pelo clube de música no passado. Apesar de ser bem pragmático, acho que o presidente do conselho estudantil era uma boa pessoa. Lá haviam alguns instrumentos num estado semi-conservado, mas tudo estava limpo e livre de poeira. Eu e Yuujimura fomos obrigados a nos sentar na fileira da frente, enquanto os outros três estavam de pé sobre o palco.

Muito bem, vamos começar os testes de admissão de membros da Rakuen!

Os dois garotos aplaudiram as palavras da ruiva, junto com a garota menor entusiasmada ao meu lado.

Quem quer começar?

Ela parou bem na beira do palco. Aquela saia... Isso é perigoso... Eu comecei a deslizar até ficar quase deitado na cadeira, e então inclinei o pescoço. Mais um pouco e eu vou conseguir...

Grande erro. O espírito masculino que conecta os homens acabou avisando Akakyo das minhas intenções. Ele acabou pegando o primeiro objeto que conseguiu encontrar - um microfone - e arremessou ele contra o meu rosto. Que mira. O objeto assassino me atingiu bem no meio da testa, me fazendo retornar a posição original ao entender o recado. Felizmente pra mim, Yuragi parecia não ter entendido, ou eu já estaria morto.

Hanabi se levantou e se voluntariou para ser a primeira. Ela foi até o palco e recebeu um violão de Kaioshi. Os três então desceram e foram para onde eu estava. Hanabi fechou os olhos e respirou para se acalmar. Após alguns segundos ela começou a bater os dedos aleatoriamente no violão, enquanto gritava uma melodia de uma vogal só. Nós quatro ficamos com cara de bunda enquanto víamos aquilo. Para minha felicidade, não era nada tão horrendo quanto a voz de Yuragi. Quando ela terminou nos forçamos a bater palmas desritmadas e eu me levantei para tomar o lugar dela no palco. Sem saber direito o que fazer com o instrumento de cordas, eu simplesmente dei um toque em todas as cordas, começando da mais grossa e declarei aquilo o fim da performance.

Me senti ofendido por não receber aplausos e ainda a vaia vinda da morena do primeiro ano.

O próximo teste foi numa bateria. Hanabi apenas bateu aleatoriamente nos tambores fazendo um barulho sem nenhum nexo. Sem conseguir mais aguentar ver uma bateria sendo tratada daquele jeito, Kaioshi se levantou e tomou as baquetas da mão dela. O resultado foi aquele beicinho mais uma vez. Na minha vez, eu passei alguns segundos pensando no que ia fazer. No fim das contas, dei apenas três toques que formaram um som de "Tum dum tss". Kaioshi particularmente achou bastante engraçado. Akakyo levou a mão até a testa ridicularizando meu ato e Yuragi fechou um punho e disse insultos silenciosos ao vento. Eu sorri.

Em seguida tentamos no baixo.

Mas que droga de instrumento é esse!? Nem faz barulho!

Ei, não fale assim do baixo!

Akakyo tomou o baixo das mãos dela e esfregou seu rosto carinhosamente no instrumento.

Um baixo é a alma de toda a música, a base na qual uma canção se constrói! É pura arte!

— Hunf!

Hanabi deu um chute na canela de Nekogami, fazendo-o grunhir de dor e saltar segurando sua perna. Nós três rimos.

Aquilo continuou por mais um tempo com todos os instrumentos que achamos por ali. Flauta, trombone, guitarra, violino... No fim das contas o que parecia ser um teste idiota acabou sendo divertido. Acho que já experimentei essa sensação antes... Foi quando me lembrei. Foi o mesmo no dia que fui no clube de dança com fantoches com aquela garota. Eu nunca tinha participado de um clube antes, então talvez essa seja a sensação... Ou talvez consigamos nos sentir assim quando estamos rodeados de amigos.

Eu não quero que essa sensação acabe nunca.

Tentamos cantar também, mas foi uma negação, totalmente sem ritmo. Não conseguimos fazer nada, afinal. Osakura coçou a cabeça, olhando para a pilha organizada de instrumentos que fizemos.

Isso não é bom, o que vamos fazer?

Eu olhei para o horário no celular.

Podemos pensar nisso depois. Acho que se corrermos agora podemos nos registrar ainda hoje.

Ok, então vamos!

Esperem! Isso quer dizer que eu entrei no clube?

Hanabi juntou as mãos, maravilhada. Akakyo consentiu.

Sim! A partir de hoje nós somos Rakuen!


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Nós nos apressamos para ir até a sala do conselho estudantil. A escola estava vazia, e não vimos ninguém no caminho, mas ainda tínhamos esperanças de que a reunião houvesse demorado. Para nossa sorte, alcançamos o presidente saindo sozinho e trancando a sala. Nós diminuímos a velocidade imediatamente. Ele olhou curioso na nossa direção. Eu tinha certeza que ele daria uma represália sobre corremos nos corredores, mas eu fui mais rápido.

Presidente, nós conseguimos os cinco membros pro clube.

Então vocês precisam preencher o formulário e...

Aqui.

Yuragi tirou da pasta dela um formulário que eu não vi ela preencher. Nele continha informações sobre o clube e seus membros. O presidente ajeitou os cabelos azuis para não cobrirem os olhos e coçou o queixo ao passo que lia.

Aqui não consta a função de cada membro. Eu preciso disso para validar o clube.

O presidente tirou uma caneta do bolso e apoiou o papel sobre uma prancheta que segurava. Ele olhou para a ruiva esperando as instruções dela.

Nekogami Akakyo é o baixista. Nekogami Yuragi é a guitarrista líder. Osakura Kaioshi como baterista. E...

Ela olhou pra mim, vacilante sobre a minha posição e a de Hanabi. O presidente lançou um olhar para ela por cima dos óculos, avaliando-a. Hanabi tomou a frente e fez dois símbolos de paz e amor pro ar.

Eu sou a fã número um!

Eu imediatamente tapei a boca dela, fazendo-a espernear numa tentativa de se libertar. Eu ri sem graça para o presidente, tentando fazer da frase séria da garota uma piada.

Ela está brincando! Nós dois estamos nos bastidores. Eu sou da iluminação, ela é a técnica de som.

Entendi.

Ele terminou de anotar e guardou o formulário na pasta dele.

Está tudo pronto, agora vocês podem se considerar o clube da banda da escola.

Ele fez uma pausa.

Vocês três estão no terceiro ano, não é? Tem certeza que é prudente começar um clube agora?

É verdade que nossas notas não vão nada bem. De nenhum de nós. Pensando bem, acho que isso faz de nós o clube das notas vermelhas. Mas...

Vamos nos dedicar. Vamos continuar melhorando nossas notas, não vamos deixar que o clube nos atrapalhe.

Os outros dois concordaram.

É bom ouvir isso.

Ele se virou de costas e começou a se afastar.

Boa sorte.

Ele sumiu de nossas vistas. Nós todos sorrimos uns para os outros com nossa conquista. A partir de agora, éramos Rakuen, a banda da nossa escola.


. . .


Caminhamos juntos conversando até o ponto em que nos separávamos. Nos despedimos ali, mas mesmo seguindo meu caminho, uma pessoa me seguiu. Eu olhei para trás e vi a garotinha do primeiro ano cantarolando dois passos atrás de mim. Eu esperei um pouco e caminhei lado a lado com ela.

Que bom, não é, Yuujimura? Você conseguiu um clube.

Ela parou de cantarolar e sorriu pra mim.

Sim! Tudo graças a você, Makoto-san.

Não, eu não fiz nada.

Continuamos caminhando por mais um tempo. Ela voltou a cantarolar a mesma música de antes.

Será que vamos nos sair bem nos bastidores?

Ela tirou o fantoche de jacaré - ou seria um crocodilo? - de um bolso e aproximou ele do meu rosto.

Vai ficar tudo bem! Rawr~!

No fim da frase ela fez um som que tentava imitar um dinossauro. Eu sorri como quem vê uma criança aprender algo novo.

É, provavelmente você está certa.

Nós continuamos andando. Estamos quase chegando na minha casa... Onde fica a casa dela, afinal?

Ei, Yuujimura, onde fica a sua casa?

Pra lá!

Ela apontou um caminho totalmente diferente do que estávamos indo. Minha mão foi parar instintivamente na cara, acabando por bater um pouco mais forte do que eu pretendia.

E por que você está me seguindo?

Bom...

Ela levou o dedo a boca, pensando.

Não sei!

Ela respondeu confiante. Minha reação deve ter sido hilária.

Está ficando tarde. Vamos, eu vou levar você até sua casa.

Ah, isso lembrou! Lá em casa eu tenho alguns equipamentos velhos dos meus pais que podem servir para o clube da banda!

Oh, é mesmo?

Sim! Podemos levar pra sua casa!

Hmm...

Eu olhei o relógio no celular e pensei um pouco. Se não nos apressássemos ia acabar ficando tarde demais para eu levar Nana em casa...

Tudo bem, mas temos que ir depressa.

Vamos, vamos!

Ela me pegou pela manga do braço e começou a correr.

Ah! Espere!

Eu corri atrás dela, mal conseguindo acompanha-la. A disposição de um corpo jovem é mesmo impressionante...


. . .


Au au! "

Um som de um latido. Yuujimura parou de correr e eu fui parando logo atrás. Ela estava olhando para um beco. Será que é dali que o som veio? A garota se aproximou e entrou no beco. Eu tentei enxergar o que ela estava fazendo esticando o meu pescoço, mas acabei não precisando. Ela se virou com um filhotinho de cachorro todo branco nos braços.

Ele parece estar perdido...

Olhe só, ele parece estar machucado também.

Eu me aproximei e indiquei sua pata esquerda da frente. Ela estava manchada de sangue, e o filhote parecia muito assustado. Hanabi se ajoelhou no chão e tirou um lenço de um bolso do casaco. Depois de rasga-lo, ela improvisou uma bandagem para a patinha do cachorro, que grunhia chorosamente a medida que ela ia amarrando o pano.

Calma, é pro seu bem...

Olhando ela desse jeito ela parecia menos como uma garotinha e mais como uma mãe. Eu ainda não tinha conhecido esse lado dela... Ela olhou pra mim de uma forma que eu sabia que ela ia me pedir algo.

Temos que achar a mamãe dela, Makoto-san.

Entendi. Eu vou dar uma olhada.

Eu comecei apenas analisando aquilo que podia ver sem me mover. Não parecia ter sinal de nenhum cachorro ou alguém procurando um cachorro naquele lugar, então eu precisei andar e entrar em algumas ruas, prestando atenção para não me perder. Eu nunca estive por aqui então qualquer erro me levaria a uma desagradável e demorada volta para casa...

Eu saí de um caminhar calmo para um apressado, e antes de perceber estava correndo. Não sei se eu realmente fiquei preocupado com o filhotinho perdido ou se eu simplesmente estou com pressa para chegar em casa logo. De qualquer forma, a procura continuou por mais ou menos meia hora, até que eu avistei uma cadela branca peluda num beco. A expressão dela parecia abatida... A cadela estava amamentando 3 outros cachorrinhos idênticos aos que Hanabi trazia em mãos um pouco atrás de mim. Eu sorri e olhei pra ela.

Encontrei!

A garotinha se apressou e trouxe o filhotinho. A medida que nos aproximamos a cadela começou a rosnar, dando latidos que fizerem Hanabi dar um passo para trás. Mas ela juntou sua coragem e estendeu o filhote para a mãe. A cadela farejou um pouco e lambeu o rosto do filhote, que balançou a cauda e se livrou das mãos de sua transportadora humana. Ele brincou um pouco com seus irmãos antes de começar a se alimentar também. Devia estar faminto...

A cena me fez sorrir e sentir aquela sensação de trabalho bem feito.

Haha, faz cócegas!

A mãe cadela lambeu as mãos de Hanabi em agradecimento. Acho que ela poderia ficar brincando com aqueles cachorrinhos até o outro dia de manhã, mas eu dei dois tapinhas no ombro dela, fazendo sua atenção se voltar a mim.

Está tarde, temos que ir pra casa.

Certo.

. . .


O sol poente deixava o céu naquele tom alaranjado de fim de tarde quando chegamos na casa dos Yuujimura. Era uma casa pequena e simples, bem apagada diante de suas irmãs vizinhas. Mesmo que eu olhasse para as janelas, elas estavam cobertas com cortinas, e eu não podia ver o interior da casa. Minha curiosidade só ficaria maior diante da fala da garota.

Espere aqui, eu vou buscar os equipamentos!

Tudo bem, eu espero.

Ela destrancou a porta e entrou em casa. Eu estranhei por que ela não cumprimentou ninguém ao chegar. Será que ela mora sozinha? Ou talvez os pais dela trabalhem até tarde, ou estejam viajando... Para descobrir isso eu me dirigi até a placa que indicava a família que morava ali. Lá estavam dois nomes: Yuujimura Hanabi e Yuujimura Kouko. Entendi, então ela vive só com a mãe... No entanto havia espaço para um terceiro nome, que estava estranhamente ilegível, como se alguém tivesse riscado ele para ficar dessa forma. Enquanto eu remoía aquilo na minha cabeça, a porta se abriu.

E-ei!

Yuujimura mal conseguia se equilibrar carregando aquelas duas caixas de aparência pesada. Cobrindo a visão dela daquele jeito, ela também não sabia para onde ir, e estava andando num zig-zag que culminou na sua quase queda, se não fosse eu para segura-la.

Cuidado com isso. Vamos, me dê elas.

Não, eu consigo carrega-las!

Não seja estúpida, vamos logo.

Ela pensou um pouco na sua própria situação. Vamos, bom senso da Hanabi, aja!

... Tudo bem, eu vou te dar a mais pesada.

Ela mostrou que a caixa de baixo seria a mais pesada para eu pegar, e assim eu fiz. Para mim não seria tão pesado mesmo que as duas tivessem aquele peso, mas imaginei que ela não devia ter muita força física para carregar aquela quantidade de peso. Claramente aliviada, ela endireitou a coluna e se esticou.

Vamos.

Voltamos a caminhar, dessa vez na direção da minha casa. O céu já havia escurecido completamente. Eu voltei a pensar na minha situação. Eu teria que levar Hanabi de volta em casa para então voltar pra casa para então levar Nana em casa e então poder, finalmente, ter um merecido descanso. Minhas pernas já protestavam de antemão, ainda mais com todo o trabalho que tive de encontrar a mãe do cachorrinho.

O movimento ali estava cessando e as lojas começavam a fechar. Não se via quase ninguém na rua, e o silêncio regia o local. Exceto pela voz da garota, que mais uma vez, cantarolava a mesma canção de antes.

Que música você está cantarolando?

Hm? Ah, essa música é da minha mãe.

Ah, é mesmo? Que tipo de mãe você tem, Yuujimura?

O tipo coruja, eu acho!

Haha, entendo...

Eu fiquei sem graça e nostálgico ao mesmo tempo A minha mãe também era assim... Vivia pegando no nosso pé pra tudo.

Ainda falta muito?

Ela estava encontrando o limite do seu esforço. Mesmo com a caixa mais leve, os braços dela tremiam um pouco.

Pare um pouco aqui.

Eu parei e deixei minha caixa no chão. Ela ainda tinha que dar uns passos para me alcançar e só então soltar o peso da caixa dela ao lado da minha.

Falta, pouco. Nós só temos que...

Ei, vocês.

O quê?

Eu não esperava que ninguém fosse falar conosco naquela hora da noite, então me surpreendi. Quando eu comecei a me virar para ver quem era, uma mão pesada me agarrou pelo ombro e encostou o cano de algo no meu peito. Meu olhar desceu instintivamente.

Um revólver.

Eu ouvi o som de algo alto mas não senti a dor nem o líquido quente saindo do meu corpo. O som na verdade era da caixa que a garota tinha derrubado ao cair de joelhos no chão.

Pânico.

Seu olhar era de puro pavor, e por nenhum momento se desviava dar arma no meu peito. O homem na minha frente me empurrou para criar uma zona de segurança pra ele e elevou a mira para a minha cabeça.

Ele vai me matar...

Meu corpo, que até agora não tinha demonstrado resposta foi tomado por um calafrio aterrorizante. Eu queria gritar, mas minha garganta foi privada de voz.

É melhor darem tudo que vocês tem se não quiserem problemas.

Aquele sorriso maldoso me fez sentir um misto de ódio e nojo junto com todas as minhas outras emoções de medo e desespero.

Mesmo que nossos rostos estivessem secos, eu senti como se estivéssemos chorando.

Mesmo que o silêncio da noite fosse absoluto, eu senti como se estivéssemos gritando.

Mesmo que ainda estivesse vivo, eu senti como se minha vida já não fosse mais minha.

. . .

Chiharu - 07
Pranto Silencioso.

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